domingo, 23 de outubro de 2011

Carência

“Você não tem que ter alguém pra ser completo. Você precisa ter você, não se perder, não perder sua essência. O resto vem!” (Mariana Lobo)



Fico com a ideia de que tudo o que eu aprendi ajudou na construção da dor. Se sinto medo do amor, de alguma forma, ele deixou uma marca não muito bonita de se ver. E assim me constituí gente, com aquela sensaçãozinha de dúvida em relação ao mundo. Vejo que foi o que aprendi desde cedo, e para além disso, não pretendo jamais me culpar ou culpar alguém. Faltou confiança nas minhas relações. Palavras marcaram. Atitudes também. E se não tenho facilidade em acreditar, em confiar, percebo que tudo veio das minhas primeiras relações. É exatamente por entender isso que dou sempre uma chance às pessoas. Afinal, a culpa também é minha. Aí deixo-as se mostrarem sempre. Mas confiar demora... e como demora!

Talvez se eu fosse mais 'frio', não morreria de ansiedade à espera de um simples 'oi'. E não me perderia tanto quando sinto ciúmes de pessoas que nunca estiveram realmente comigo. Talvez se não falasse tanto de amor o tornaria distante, e talvez essa distância facilitasse o meu sentir. Talvez um dia encontraremos alguém especial que nos faça esquecer o que é a palavra fim. E nos faça confiar. E nos faça recuperar toda alegria e vontade de viver. E nos faça perceber que podemos sim ser fortes sozinhos... O amor tem a capacidade de nos fazer apaixonar pela gente mesmo. O amor nos faz nos cuidar para alguém. Mas só o amor verdadeiro é capaz de nos mostrar nosso valor e nos ensinar a cuidar mais da gente sem colocar o outro em primeiro lugar...

Algumas pessoas passam a vida toda de galho em galho, de relacionamento em relacionamento. Outras passam a vida inteira 'falando' de amor. Não sei se é mais difícil achar que nunca acerta nos romances, ou se é mais difícil ter medo de não encontrar a pessoa que tanto procura. Não importa. Já fomos enganados demais pelas novelas, pelos filmes, pelas histórias, pelos livros. Romance mesmo não tem música de fundo e nem sempre vem com tragédia de brinde. Temos mesmo é que abrir mão desse conceito de que tudo o que é mais difícil de se conseguir é melhor! Às vezes, o destino coloca pessoas tão bacanas em nosso caminho que a ilusão de que alguém melhor aparecerá nos atrapalha na nossa entrega. Claro que já vivi ao lado de pessoas que me faziam pensar que elas não eram aquilo que eu procurava. Mas pensei muito ao abandoná-las, ou me deixar ser abandonado. Porque na vida, se não temos uma balança para mensurar o peso da dor em contraponto com os prazeres, na certa não estamos sendo justos com a gente mesmo.

Se na maioria dos seus relacionamentos você foi a 'vítima do amor' e deu uma chance pra ver o que rolava, bem vindo ao clube! É ótimo ser desejado. Mas, muitas vezes, estamos tão carentes, tão necessitados de um afeto, que damos chance a qualquer pessoa! E a cada erro bobo, pensamos logo em perdoar porque não queremos estar sozinhos. O corpo pede alguém. A alma implora por alguém. E a falta continua. Mas, como disse Fernando Aniteli na música 'Sonho', "descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais, querer saber demais"...

Que a minha carência não me faça aceitar qualquer pessoa que demonstra a todo momento querer apenas um único encontro.  E que o meu medo de ser sozinho não reflita nos meus atos a ponto de cobrar ou culpar por coisas passadas às pessoas que não merecem. Que as dores ensinem apenas a fazer diferente, e jamais a taxar as pessoas como iguais. Que meus olhos quando lacrimejarem possam falar por mim. Que as pessoas um dia não sejam apenas verdadeiras com o que querem, mas fiéis com o que querem, pois ninguém precisa ter alguém do lado o acompanhando por pena ou por não encontrar nada 'melhor'. Que aprendamos a amar sem medida, e a aceitar que nem sempre esse amor pode acontecer. Pois amar é deixar livre. E que possamos parar de dizer que esperaremos pelas pessoas, porque quem se interessa larga tudo. E dizer isso não é orgulho... É se amar!


(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

domingo, 9 de outubro de 2011

O que me falta?

"O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há e-mails na caixa de entrada, não há recados na secretária eletrônica e mesmo assim você entende a mensagem." (Martha Medeiros)



O amor tá fazendo falta! E essa falta às vezes vem em alta escala, às vezes vem de mansinho. E é constante. E bate aquela "ruindade", aquele vazio, e me pego ligando a tv... mas não é isso... mastigo alguma coisa... mas não é isso... e ligo pra alguém... mas também não é isso... e tento dormir, e tento ler, e tento escrever. Aí os pássaros lá fora me tiram a concentração. Mas talvez seja só inveja. Aí me questiono: quem disse que os pássaros cantam de alegria? Pássaros engaiolados também cantam, e encantam. E o que incomoda o ser humano é justamente isso, se ver preso. Preso a valores, preso a amores, preso à família, ao lar. Não que isso não seja bom, mas toda essa "cadeia" faz parte das crises existenciais. Por isso faz falta o amor. Essas crises se estreitam, e se alarga apenas numa única direção: a da pessoa amada.

Ah, o silêncio... Bom ele seria se consigo trouxesse respostas, e não novas perguntas, novos medos, novos desejos. Mas nada de fugir, até porque não tem jeito mesmo. E é bom que venham coisas novas, porque de velho já basta o coração...
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Quando se gosta de verdade, qualquer defeito é a característica marcante da pessoa por quem nos apaixonamos. Não são as qualidades que nos seguram, são os defeitos e a maneira como os aceitamos. E muitas vezes eles são reflexos do que não suportamos em nós mesmos. Superar cada coisa que não nos agrada no outro é como vencer todos os dias uma nova batalha, o que nos dá orgulho em saber entender e se colocar no lugar de quem amamos. Abraçar as dores que uma pessoa carrega não é esquecer das nossas angústias, mas trocar experiências, ganhar resistência e conhecimento para as coisas que talvez iremos ou não viver. E caso um dia percamos de vez uma companhia, que fiquem os ensinamentos, são eles que nos mostram o quanto aprender valeu a pena, o quanto nos tornamos fortes, o quanto foi acrescentado em nós. Quem ama não quer mudança, porque se alguém muda por completo perde sua identidade. Quem ama não quer preencher espaços, quer economizá-los para caber sempre mais um pouquinho. Por isso chega de procurar alguém que te complete, chega de procurar uma pessoa que te faça melhor. O que queremos é alguém que nos faça transbordar!

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

domingo, 2 de outubro de 2011

Saber o que se quer

“O desejo pode ferrar com a sua vida. E por mais duro que seja querer muito uma coisa, as pessoas que mais sofrem são aquelas que sequer sabem o que querem.” (Grey's Anatomy)



Interessante a frase acima. Quando se é principiante em alguma coisa, logo desconfiamos da nossa capacidade em dominar. É sim algo que queremos. Talvez não esteja escancarado em nossa consciência, mas aos poucos, e não de repente, as coisas vão se transformando, acontecendo. Quem um dia disse que pessoas experientes dominam mais as situações se enganou. Inclusive em se tratando de relacionamentos amorosos...

Todo mundo procura a pessoa perfeita. Uma pessoa que conhecemos a pouco é extremamente perfeita! Não se sabe bem o que acontece, mas às vezes um certo desconforto vai tomando conta da situação. O desejo do outro - ou nosso - começa a criar outros rumos, e tem que ser bem imaturo pra não "sentir" isso. O que quase ninguém nota é que é da natureza do ser humano contaminar o outro com os nossos ideais e as nossas fantasias. Acreditamos tanto que a pessoa escolhida é perfeita que passamos a não conhecê-la de verdade, como ela é. Ela passa a ser aquilo que desejamos. Qualidades talvez que gostaríamos de ter. E se alguma atitude (às vezes parecidas com as nossas) emerge, logo caímos o fora. Não suportamos nossos defeitos, mas também não conseguimos nos livrar de nós mesmos. Por isso, é mais prático culpar o outro por defeitos muitas vezes nossos. Mas... o que fazer?

Se permitir...

Não é um trabalho fácil abrir mão do que desejamos para obter surpresas. Não é nada fácil aceitar as pessoas e a vida como elas são. Mas acredito que é mais próximo do chão, o que faz com que o tombo seja menor. Não é pensar no pior antes das coisas acontecerem. Dá uma sensaçãozinha de medo. Tem gente que é tão fixado nessa de "vou me preparar para o pior" que não percebe que tudo o que sabe fazer é encaminhar seus relacionamentos para o abismo só para alimentar sua "vaidade" e dizer para si: Eu sabia que não daria certo. Ou seja, o caminho mais fácil para não sofrer é finalizar antes das coisas se tornem realmente sérias...

Tenho a nítida impressão de que se eu soubesse desses "teoremas" há um tempo atrás, talvez ainda estaria junto à minha primeira namorada. Ou talvez nem teria olhado pra ela. Mas, de fato, o que vale aqui é me deitar tranquilo e todas as noites saber que tentei. Tentei ser feliz, tentei fazer algumas pessoas felizes. Me calei para não magoar, enquanto ouvia sinceridades - crueldades, gosto mais desse termo; e chorei escondido algumas vezes também. O que eu não faço mais é guardar o que sinto só pra mim, morro de medo de somatizações ou algo do tipo (risos).

Chega de correr atrás das borboletas, vou cuidar do meu jardim. Mas nada de culpar as mariposas que pousaram no meu ombro, nada de guardar mágoas por pessoas que não souberam me olhar da forma que sou. Nada de esperar alguém especial chegar no próximo trem, justamente na hora que eu mais preciso, porque a vida não se baseia nisso. É preciso saber o que queremos pra depois pensar no que merecemos. E o que eu não faço é me vitimizar a ponto de culpar as próximas pessoas que virão por coisas que sofri em relacionamentos passados, cobrando coisas que não têm nada a ver com a pessoa escolhida. O que eu não quero é criar limitações para o outro logo de primeira, a ponto de não deixá-lo se mostrar por inteiro. O que eu não curto é me envolver com alguém somente pra tapar buracos, tornando-o escravo das minhas vontades e alimentando meu desespero em estar com a "pessoa certa". O que eu não admito é que eu perca a coragem e a vontade de me apaixonar, de amar perdidamente, e o mais importante, de dar um bom intervalo entre um relacionamento e outro. É tudo muito confuso tanto no início quanto no final. E quando chega o fim vejo a grande importância em entender o que se sente, o que machuca e o que realmente aconteceu. E o que eu espero é que essa parte de analisar os finais se vá, mas nunca deixe de fazer parte desse ciclo "eros-psi-orgânico" que existe no meio de nós.

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)