quarta-feira, 17 de abril de 2013

Faíscas



Engraçado como é o amor que a gente sente: por detrás dele há mais do que um simples querer por perto. Há ânsias, sonhos, presentes, presença, vontade de fazer feliz, desejo de completude. Mas que, às vezes, por infeliz ironia, a realidade pousa nos nossos ombros e começamos a perder as lentes dos óculos que antes só viam beleza. Se o amor perdura, e se os defeitos também são apaixonantes, aí sim se fortalece um afeto verdadeiro. Mas se o silêncio insiste em gritar, se a distância aumenta mesmo a poucos passos um do outro, o amor vai se desfazendo em migalhas, até virar pó. Dá muita pena ver um sentimento tão bonito se transformar em uma saudade que insiste nas fotografias. Mas a gente se auto engana, que é pra essa magia boba não passar. Um dia aprendi que ódio é apenas mais uma modalidade do amor... Confesso, ainda restam faíscas de tudo o que vivemos, mas não vou parar o meu caminho por isso. Então vou seguindo, com um rancorzinho bobo, implicado com você, que é pra não acabar tudo de vez.

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

domingo, 7 de abril de 2013

Moradia



Meu coração sempre tem espaços pra mais: mais amor, mais verdade, mais pureza, mais leveza, mais gente nova, mais perdão, mais esquecimento, mais dinheiro no bolso, mais momentos com os amigos, mais abraços, mais sorrisos, mais mensagens no celular, mais palavras bonitas, mais poemas, mais bebidas, mais domingos de sol, mais feriados, mais tempo livre, mais disposição, mais sorte, mais fé, mais saúde, mais conteúdo. E nele, há uma portinha dos fundos que sempre despacha aquilo que é ruim, triste e empoeirado: amizade falsa, mentira, inveja, mau agouro, interesse, gente mal agradecida, mágoa, pesos desnecessários. Fiz do peito moradia, por isso vou logo avisando que aqui só tem espaço pra quem merece e faz por onde, não pra quem quer.

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

Intervalo



Houve um tempo em que eu amava a todos, mesmo sendo deixado de lado, mesmo sendo enganado, mesmo que me fizessem doer. Eu era mestre, um grande mestre em perdoar. Eu me entregava sem limites, mesmo que o caminho se estreitasse, mesmo que me dessem de bandeja um áspero Não. E nem me importava com as consequências, porque naquele tempo o barato da vida era ela me custar bem caro. Até que a gente se cansa. Cansa não, se esgota. Falta ânimo pra qualquer coisa que me tire o conforto de ser eu mesmo. E como disse Caio, o tempo vai passando e a gente vai encontrando formas de se proteger. Mas uma coisa que não perdi foi essa mania de me entregar, de confiar, de gostar muito, logo de cara, de alguém. Até surgir - sempre com o desejo de que nunca aconteça -, uma atitude que vá contra meus valores. Aí eu já fico com o pé atrás, e não sei nem por onde começar uma reaproximação - isso se houver. Não sou de carregar pesos desnecessários. Mágoa pra mim não tem vez. Não tenho rancor de ninguém, e olha que até poderia vir a ter, já que não sou santo. Mas sou exigente. E uma coisa que acredito é que as pessoas deveriam preservar o mínimo de educação que nem é favor a oferecer, é obrigação. Muita gente nem sabe, mas tem me perdido um pouquinho por dia. E posso até voltar, mas não sei fazer as coisas voltarem a ser como antes. Isso é cara de pau, fingir que nada aconteceu. Por isso prefiro seguir cultivando o que traz paz pro peito, pros dias, pra vida. Sou sistemático sim, mas meu sistema é para além do entendimento: pisou em alguém, mesmo que seja pra me proteger, já mostrou um pouco do seu caráter. E gente assim é melhor só ver de longe. Porque no intervalo entre meu 'oi' e meu 'tchau' só cabem os melhores, os bons e os especiais.

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)