segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cuide de você



Dizem que é quando estamos mais tristes que as mais belas palavras podem ser transcritas... Descordo. Na tristeza falta cor, falta brilho, falta ritmo, falta vontade, sobra desperdício. Desperdício de vida, de tempo, de sorrisos, de sonhos, de tudo. Há um espaço paralelo entre ser e existir. Faltam motivos qualitativos, sobram motivos quantitativos. Faltam pessoas ao nosso redor, sobram pessoas em nossa volta. As más línguas chamariam de solidão, e eu de "Motivo Especial".

Motivo Especial é aquele que você passa a se sentir ali, presente. Percebe que tá na hora de cuidar de você, ser sincero com você, entender você. Por esse Motivo Especial, a gente se desprende do mundo, entra em um descompasso e percebe-se diferente dos demais. Permite-se doer de forma leve. A gente sobra. Nosso corpo fica maior, desajeitado, expansivo. O vento é mais forte, mesmo com o ar parado. Os ruídos incomodam mais. Nossa percepção aumenta. Tudo ganha um cheiro diferente. As cores se embaralham, o preto e o branco se sobrepõem. Momento Especial não tem hora, nem dia pra acontecer. Simplesmente acontece. É quando a gente toma aquele susto e percebe que o tempo todo estávamos indo a favor da correnteza. Literalmente, deixando a vida nos levar. A cabeça pesa. A angústia perpassa sobre o pescoço, o peito, alojando-se no coração. Difícil existirem pessoas que atualmente permitam isso acontecer. Vivemos em um mundo que, com tanto analgésico, não nos permitimos mais sentir qualquer dor. E esquecemos que é a angústia que nos faz crescer. A perda elaborada nos faz mais fortes. A dor vivida se transforma em cicatriz, marca esta que apenas os vivos possuem, e que significa "eu sobrevivi". Motivo Especial aparentemente parece-nos assustador, mas se não nos permitimos vivenciá-lo, seremos eternas crianças necessitadas de adultos que nos deem algum tipo de medicamento...

Medicar-se faz bem quando é caso de medidas extremas. Coração partido, por exemplo, precisa no mínimo de um porre e de música bem alta. Cada risada sem motivo é uma alfinetada, cada grito uma costura, cada amigo um nó. Mas no outro dia, ainda dói. Talvez doa até mais. Mas logo arrumamos um meio de mudar o rumo do pensamento. Talvez seja saudável sim, mas uma hora a "casa cai". Uma hora a lembrança vem, nas mínimas coisas, e aí percebemos que a ferida não cicatrizou. Pra quem busca um amor pra esquecer outro, fica o meu conselho: se antes era apenas uma pessoa machucada, logo poderá ser duas, caso ainda doa em você...

Não condeno nenhuma felicidade repentina. Afinal, é o meio mais absurdo que encontramos pra suportar os danos em existir. O que não gosto é de gente que diz que nos ama e depois vem com aquele papo de que estava confuso. O que não aturo é companhia por pena ou falta de opção. O que não quero é ser a preocupação de alguém, porque preocupação incomoda, traz danos, e está muito distante de ser amor. Nada de ligações pra não parecer que sumiu, porque de obrigação já bastam os trabalhos e os estudos. Aliás, quero é que tudo seja prazer pra alguém, inclusive minha companhia. Não admito que não haja erros, só não preciso que eles sejam intencionais. Quero datas especiais a mais em meu calendário, mas não quero brigar pra lembrá-las a alguém. Quero amor na mesma medida, nada de um gostar mais que o outro. Quero família, cachorro, gato, papagaio, periquito. Quero segredo. Quero significado maior que o de um anel. E quero a mim primeiro, pra depois querer alguém. E se não for pedir muito, que chegue de mansinho, porque só tem pressa pra começar quem tem medo de acabar...

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Bastar-se




Aos poucos me libertei daquele amor exigente. Nada de desespero por presença, nem tampouco choro por solidão. Aprendi a me completar com meia dúzia de bons amigos. Aquela vontade de estar sempre junto ainda existe, mas o abandono tem lá suas regalias: nos ensina a "se bastar". Me bastei no amor, no beijo, no toque, na presença. Há tanto tempo não me abraçava de frente ao espelho, e hoje vejo o quão isso é importante. Aposto que muitas pessoas nunca sentiram tamanha experiência: utilizar os próprio braços, colocar as próprias mãos, cruzadas, sobre os ombros, tombar a cabeça para a direita, fechar os olhos, sentir o próprio cheiro e, além de tudo, sentir-se especial. Nunca foi hipocrisia ser feliz sozinho quando não se encontra alguém "à altura". Hipocrisia seria aceitar, por mera carência, uma pessoa qualquer, permitindo-a ocupar um espaço especial reservado para alguém especial...

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Confiança




Encantar. Quem nunca? Com uma fotografia, um andado, um cumprimento, um sorriso, um texto, uma música, um olhar. Diferentemente do que estamos acostumados a pensar o que seja amor a primeira vista, encantar requer abertura aos nossos olhos e aos sentimentos. Encantar requer confiança em um futuro, agradecimento ao passado, desafio com o presente. Requer também esvaziamento breve de espaços, o que muitas vezes não o fazemos para fora. Muitas vezes, é como se jogássemos o lixo pra debaixo do tapete, o que nos impossibilita de aproveitar ao máximo da pureza de um sentimento pelo "simples" medo de perder. Perder o que não se tem, mas que se pretende "conquistar". Porém, aos poucos vamos entendendo que conquista tem mais a ver com maturidade do que sensualidade...

Na busca por uma companhia, por mais que queiramos alguém definitivo na vida, existem contratempos. Nem vejo mais o medo impedindo as pessoas de serem felizes, mas a disponibilidade. Disponibilidade de tempo, de investimento de energia e de pensamentos. Trata-se mais de como lidamos com nossos pensamentos em alguém naquele momento corrido do dia-a-dia, do que o que pretendemos fazer a respeito das nossas horas livres. Refere-se mais ao esforço de se mostrar presente do que estar fisicamente juntos. É saber manter a chama acesa mesmo que não haja mais fogo ou lenha, simplesmente por acreditar que podemos ter o coração aquecido por doces lembranças (ou lembranças que geram aprendizados)...

Lembra daquele sumiço? Com ele aprendi a me guiar não para onde costumávamos ir, mas onde eu nunca iria sozinho por medo de me encontrar. Lembra quando descobri que existia uma outra pessoa em sua vida? Foi o mesmo momento em que entendi que as pessoas que mais sofrem são aquelas que não sabem o que querem, e neste caso era você. Lembra das melhores festas, dos melhores restaurantes, dos melhores parques, das melhores praias? Tudo isso só valia a pena porque era a única hora em que eu percebia seu verdadeiro sorriso e sua verdadeira satisfação, e o mais magnífico, éramos só eu e você. Lembra do pôr-do-sol juntos, do beijo na chuva, de rir até a barriga doer, de correr descalço, de passear com os cachorros? Nunca se lembrará, pois era apenas parte do meu sonho e da vida que eu desejava - e pretendia - viver contigo. E quando me dizia que viria me ver, mas sempre arrumava uma desculpa, também se lembra? Aprendi a arrumar desculpas pra mim também, dentre elas a de ter a certeza de que você nem sempre merecia a minha espera, a minha preocupação, o meu melhor. Aprendi a ter forças diante de cada fraqueza, inclusive nos momentos em que prometia não mais te procurar, e procurava; e aprendi a viver depois de quase morrer por medo de te esquecer um dia, apagando de vez aquele amor puro. Aprendi a desconfiar de tudo, me fechei para o mundo, e te agradeço por isso. Se eu não aprendesse a me fechar, talvez eu vivesse sempre com aquele romantismo sem graça, sem cor, sem consistência, sem insistência, sem exigências, sem reticências... Como disse Aristóteles, "Talvez eu seja enganado inúmeras vezes. Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém merece a minha confiança."


(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Amanhã pode ser tarde


Esqueça a convicção de que dará tempo pra fazer tudo, porque não dá. Os dias voam, e quem ainda não percebeu isso está no mundo a passeio, não a trabalho. Família é um bem importante e que não escolhemos. Amigos são essenciais, mas ainda assim sabemos com quais podemos contar sempre. Pensar que o perdão virá com o tempo não é a melhor saída pros sofrimentos. Não é o tempo que cura a dor, é o amor. O amor em contraponto ao nosso orgulho, o amor à cura das feridas que muitas vezes criamos sem uma razão. A cada dia que fica pra trás, mais tenho certeza de que com ele deixamos chances de ser mais tranquilo com a gente mesmo. E de deixar alguém tranquilo também. Concordo com você, ninguém sabe o que se passa dentro da gente. E ninguém saberá como resolver nossos problemas, senão nós mesmos...

Escolhas são essenciais para sairmos da mesmice. Mas ignorar o passado, as raízes, é querer desfazer de quem somos, porque querendo ou não, cada medo, cada insônia, cada lágrima, cada sorriso, cada vitória, cada pedido de ajuda tem a ver com a nossa história. Até os "não's" foram grandes geradores de vitórias na vida, pois o fechar de portas nos permite, muitas vezes, buscar - e encontrar - outras melhores. Perdoar é ato de gente forte, porque conviver com mágoas de quem nos causou algum mal não é fácil. Oferecer flores a quem sempre nos ofereceu espinhos é um ato de amor e coragem. Nunca seremos nós os criadores de justiça, porque justiça terrena não existe, apenas o "mal terreno". Esqueça as pessoas que lhe fizeram sofrer, chorar, querer desistir. Sai mais barato do que levá-las pra sua cama, deixá-las deitar em seu travesseiro, junto a você. Lembra da história dos dois lobos - um bom e um ruim - que temos dentro de nós? Sobreviverá aquele que você alimentar... Abandone a raiva, porque se você optar por carregá-la, ela pesará sobre seus ombros e te fará encurvar-se diante da vida, te fará sentir dores de cabeça por pensar demais, atacará seu estômago, caso você a engula. Perdoar não significa saber dizer Eu Te Perdoo, é conviver, é suportar, é olhar com os olhos do coração, é tentar entender os motivos que a outra pessoa possui pra viver em função da tristeza, e auxiliá-la em silêncio. Afastar não significa resolver a angústia. Viver bem, mesmo diante de impossibilidades, talvez seja a solução mais conveniente. Não ficamos tristes sem motivos? Que saibamos ficar felizes sem motivos também! Direitos iguais para sentimentos diferentes, SEMPRE...

Amanhã pode ser tarde. Tarde para agradecer a Deus por tudo o que temos, tudo o que sentimos. Tarde para manter um sonho aceso. Tarde para sentir a chuva nos cabelos sem se preocupar com o resfriado. Tarde para conseguir amar com uma pitada de desespero, tarde para subir no lugar mais alto pra ver o sol nascer ou se por. Tarde para dizer a uma pessoa o quanto ela é especial, ou o quanto ela te machucou. Tarde para ensinar alguma coisa pra alguém mais velho, e aprender com alguém mais novo. Tarde para fazer o dinheiro render. Amanhã pode ser tarde para dar aquele abraço, sentir aquele cheiro, sorrir junto e chorar junto também. Tarde pra ser correspondido no sentimento, tarde para dançar sem música, tarde para cantar no chuveiro, tarde para sair com os amigos por aí, sem destino. Amanhã pode ser tarde para a vida, e cedo demais para a morte. Não vamos viver para o arrependimento. Que lá na última "pontinha" que nos restar possamos no mínimo dizer: A felicidade é como uma peça de teatro; se não consegui apresentá-la ao mundo, pelo menos ensaiei a vida inteira!

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)