domingo, 9 de setembro de 2012

Lamento e reencontro



Por me preocupar tanto com o belo e com o leve para a alma, percebi que me esqueci jogado num cantinho sem nome. Um cantinho úmido, sem luz, habitado por vozes que não falam, por pensamentos que não fluem, por forças que não movem nem uma pena. E quanta pena! Até que desacreditei no amor pra mim. É lindo esperançar os dias, mas mais bonito seria se não houvesse essa pressa de ser feliz. Gosto de ouvir histórias de quem deu certo, e sou apaixonado inclusive por aquelas que trazem essas palavras: enfim deu certo, mas eu esperei muito, e também sofri muito até aqui. Por isso, hoje abandonei qualquer racionalização que queira me acalmar. Permiti me sentir infeliz por uma noite...

Eu tenho vivido de quases que muitos nem sonham entender. Quase amor é uma dádiva para aqueles que sabem contá-lo, escrever sobre ele. E se você não se cansou das minhas palavras, pode ser que tenhamos algo em comum.

Sou muito fácil em gostar, sou sincero em sentir, mas não sou bom em lutar pelo amor de ninguém. Valorizo tanto os sinais humanos que quase faço contato que seres desconhecidos. E percebo que quanto mais eu falo, quanto mais eu penso, e quanto mais eu escrevo, mais distante fico daquilo que quero dizer. Portanto, é preciso ser direto: desapegar dos sentimentos dói tanto! Segurar a emoção, o choro, o suor, o coração é uma tarefa árdua. Quase amar alguém é uma idiotice, mas percebi que tornou-se um hábito que me sustenta no mundo. Há uma forma de ignorar a dor e seguir suportando a minha neurose.

O que quero não está escrito, não pode ser explicado, mas hoje tive uma certeza: não é nada do que eu vivi. Um amor que se parece com o conhecido é pouco, é mínimo, é bobagem. Esqueci mãos, pés, olhos, dentes, pele, cheiro, timbre. Mas não palavras. Ah, aquelas palavras de desculpas tolas para se tentar explicar aquilo que não se formalizou. Percebi que a quantidade de estímulos é o que me segura, o que me faz querer ficar, morar, resistir. Explicações geralmente me provocam o oposto. E por me respeitar, por me amar, por me considerar, por conviver com minha essência e por ainda estar em processo de autoconhecimento, decidi me dar o devido valor. É claro que com muitos deslizes, mas sempre com a tentativa de acerto. Se eu tentei com tantas pessoas, por que eu não tentaria comigo? E assim, após essa discussão nem um pouco inteligível - pelo menos do ponto de vista de leitor - que resolvi abandonar as expectativas, a busca, a esperança, a fé, o amor. Mas só por essa noite, sabe por que? Porque viver pensando demais cansa. Porque amar sozinho dói. Porque o tesão só acontece depois de rituais de gentileza. E porque me tornei, in-felizmente, um comerciante, que oferece amostras grátis de sentimentos a quem chega e só pergunta as horas. E comerciantes, como eu, que têm estampado na cara que pratica-se o "fiado", acabam sendo usados enquanto vale a pena, enquanto convém. E convenhamos: preciso de sorte. Preciso de orações. Preciso de muita luz, muita fé, muita esperança, muito amor. Preciso reencontrar agora todos os afetos que me afetam, que me compõem, para que eu possa me recompor. E foi isso que fiz. Me despi até chegar à minha nudez de sentimento, para que eu pudesse entender qual a minha essência. Há a possibilidade de um vaso de barro não conter barro? Pois é isso que me norteia: embora eu ainda não o tenha, continuo feito de AMOR.

(Por Geraldo Vilela Mano Júnior)

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